quarta-feira, 17 de agosto de 2011

AS QUALIDADES DA BOA MÚSICA


..........................    por  Giulian Vasques
          Tenho estudado alguns temas com mais intensidade e um deles é sobre a ADORAÇÃO. Descobri um capítulo precioso no livro Evangelismo de Ellen G. White. Trata-se do capítulo 15 intitulado “Evangelismo do Canto”. Dentre algumas partes muito importantes que tratam sobre adoração, tradição e propósito do culto, esta abaixo fala sobre os exageros nas apresentações musicais em geral. Aproveite e reflita.
As Qualidades da Boa Música
          “Pode-se fazer grande aperfeiçoamento no canto. Pensam alguns que, quanto mais alto cantarem, tanto mais música fazem; barulho, porém, não é música. O bom canto é como a música dos pássaros – dominado e melodioso. Tenho ouvido em algumas de nossas igrejas solos que eram de todo inadequados ao culto da casa do Senhor. As notas longamente puxadas e os sons peculiares, comuns no canto de óperas, não agradam aos anjos. Eles se deleitam em ouvir os simples cânticos de louvor entoados em tom natural. Os cânticos em que cada palavra é pronunciada claramente, em tom harmonioso, eles se unem a nós no cântico. Eles combinam o coro, entoado de coração, com o espírito e o entendimento”. Manuscrito 91, 1903.
Ellen G. White, Evangelismo, p. 510.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

A Primeira Chuva da História


 
Uma Névoa Molhava a Terra Antes do Dilúvio — Depois de sete dias, começou a chover. Antes disso, não tinha havido chuva. Uma névoa erguia-se para molhar a Terra, mas à medida que a chuva começava a cair lentamente e então ia aumentando, o povo começou a se perguntar, de onde vinha aquilo? E, finalmente, os céus foram abertos e a chuva caiu torrencialmente, varrendo tudo que estava na superfície da Terra. MS 32, 1886.

Escarnecedores Antediluvianos Ridicularizaram a Predição de Noé — Escarnecedores apontavam para as coisas da natureza — a sucessão invariável das estações, o céu azul que nunca havia derramado chuva, os campos verdejantes refrescados pelo brando orvalho da noite e exclamavam: “Fala ele parábolas?” Desdenhosamente declaravam ser o pregador da justiça um rematado fanático; e continuavam mais avidamente na busca de prazeres, mais decididos em seus maus caminhos do que nunca dantes. Mas a incredulidade que alimentavam não impediu o acontecimento predito. GC, pág. 338.

Nenhuma Chuva Antes Do Dilúvio — A família de Noé estava há sete dias na arca, antes que a chuva caísse sobre a Terra … Foram dias de blasfêmia e divertimento para a multidão de incrédulos. Conjeturavam que pelo fato de a profecia de Noé não ter se cumprido imediatamente após a entrada na arca, ele estava enganado, pois para eles era impossível que o mundo fosse destruído por uma inundação. Antes disso, não tinha havido chuva sobre a Terra. Um vapor erguia-se das águas, que Deus fazia voltar à noite como orvalho, para reviver a vegetação e levá-la a florescer …

Mas, ao oitavo dia o céu escureceu. O ribombo do trovão e o vívido resplendor dos relâmpagos começaram a terrificar os homens e animais. A chuva caía das nuvens sobre eles. Isto era algo que nunca tinham visto, e seu coração desmaiava de temor. A violência da tempestade aumentou até que a água parecia cair do céu como poderosas cataratas. As margens dos rios se rompiam, e as águas inundavam os vales. Os fundamentos do grande abismo também se partiram. Jatos de água irrompiam da Terra com força indescritível, arremessando pedras maciças a muitos metros para o ar, que ao caírem, sepultavam-se profundamente no solo. 3SG, págs. 68-69 (1 SP, págs. 72-73), HR, pág. 67.

A Primeira Chuva — Mas, ao oitavo dia, nuvens negras se espalharam pelo céu. Seguiram-se o murmúrio do trovão e o lampejo do relâmpago. Logo, grandes gotas de chuva começaram a cair. O mundo nunca havia testemunhado coisa algum a semelhante a isto, e o coração dos homens foi tocado pelo medo. Todos estavam secretamente indagando: “Será que Noé tinha razão e que o mundo está condenado à destruição?” Cada vez mais negros se tornavam os céus, e mais rapidamente vinha a chuva. Os animais estavam vagueando de um lado para outro no mais desenfreado terror, e seus gritos discordantes pareciam lamentar seu próprio destino e a sorte dos homens. Então “ se romperam todas as fontes do grande abismo, e as janelas do céu se abriram”. (Gên. 7:11). A água parecia vir das nuvens em grandes cataratas. Os rios romperam os seus limites, e inundaram os vales. Jatos de água irrompiam da Terra, com força indescritível, arremessando pedras maciças a muitos metros para o ar; e ao caírem, sepultavam-se profundamente no solo. PP, pág. 99.

Reação dos Antediluvianos à Primeira Chuva — Ao término dos sete dias, nuvens começaram a se juntar no céu. Esta era uma visão nova porque as pessoas nunca haviam visto nuvens. Até então, nenhuma chuva tinha caído; a Terra era molhada por uma névoa. Foram- se formando mais grossas nuvens e logo a chuva começou a cair. As pessoas ainda tentavam ignorar os acontecimentos, não os considerando alarmantes. Mas logo pareceu como se as janelas do céu tivessem sido abertas, pois a chuva caia torrencialmente. Durante um tempo o solo absorveu a chuva, mas logo a água começou a subir, e a cada dia subia mais e mais alto. A cada manhã, quando as pessoas viam que ainda estava chovendo, entreolhavam-se em desespero, repetindo diariamente as palavras: “Ainda está chovendo!”. As sim era, de manhã e à noite.

Durante quarenta dias e quarenta noites a chuva caiu. A água entrou nas casas, expulsando as pessoas aos templos que tinham erigido para a sua adoração idólatra. Os templos eram também varridos. Os fundamentos do grande abismo se partiram. A água irrompia da Terra e pedras gigantes eram lançadas pelo ar.

Por toda parte viam-se pessoas fugindo à procura de refúgio. A hora chegara, e eles poderiam estar felizes se tivessem aceitado o convite para entrar na arca. Cheios de angústia, clamavam: “Oh, por favor, um lugar seguro!”. Alguns gritavam para Noé, implorando entra da na arca. Mas, em meio às explosões furiosas da tempestade, suas vozes não eram ouvidas. Alguns ficaram agarrados à arca até que fossem lavados pelas fortes ondas. Deus havia fechado as portas com aqueles que acreditaram em Sua Palavra, e nenhum outro poderia entrar.

Pais com seus filhos ainda buscavam abrigo nos galhos mais altos das árvores, mas logo que encontravam refúgio, o vento arremessava as árvores juntamente com as pessoas nas espumosas e inquietas águas. Animais e seres humanos aterrorizados escalavam as montanhas mais altas, mas eram varridos pela fúria do dilúvio. ST, 10 de abril de 1901. 
 

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Condições Antidiluvianas

A Perfeição Física de Adão e Eva — Ao sair Adão das mãos do Criador era de nobre estatura e perfeita simetria. Tinha mais de duas vezes o tamanho dos homens que hoje vivem sobre a Terra, e era bem proporcionado. Eva não era tão alta quanto Adão. Sua cabeça alcançava pouco acima dos seus ombros. Ela, também, era nobre, perfeita em simetria e cheia de beleza. 3 SG, pág. 34 (1 SP, pág. 25).

A Aparência Física de Adão e Eva — Ao sair Adão das mãos do Criador, era de nobre estatura e perfeita simetria. Sua cútis não era branca ou pálida, mas rosada, reluzindo com a rica coloração da saúde. Tinha mais de duas vezes o tamanho dos homens que hoje vivem sobre a Terra. Eva não era tão alta quanto Adão, mas também, era nobre, perfeita em simetria e cheia de beleza. PP, pág. 45.

O Mundo Antediluviano Mostrava Poucos Sinais de Decadência — Naquele tempo quando Noé pregou o mundo mostrava lentamente os primeiros sinais de decadência. Tudo na natureza era belo e majestoso. As grandes árvores, altas montanhas, os sinais de que Deus tinha o controle nos céus, pareciam tão grandes e imponentes para as pessoas que elas recusavam-se a acreditar que a Terra seria destruída. ST 10 de Abril de 1901.

Sete Assemelhava-se Mais a Adão do que Caim ou Abel; Aparências do Mundo Antediluviano — Sete era de estatura mais nobre do que Caim ou Abel, e parecia-se muito mais com Adão do que os demais filhos …

Aqueles que no princípio honravam e temiam ofender a Deus, sentiram primeiramente a maldição, mas levemente; enquanto os que se voltaram contra Deus e se rebelaram contra sua autoridade, sentiram fortemente os efeitos da maldição, especialmente no que se refere à estatura e à nobreza da forma …

A raça humana, que vivia na época, era de grande estatura e possuía força grandiosa. As árvores sobrepujavam em tamanho, beleza e proporção perfeita, superando tudo que qualquer mortal já tenha visto; sua madeira era de belo veio e dura substância, assemelhando-se em muito à pedra. Isso requeria muito mais tempo e trabalho, mesmo daquela raça poderosa, no preparo das vigas para a construção, do que se exige hoje, nesta época degenerada, para preparar as árvores que crescem sobre a Terra, mesmo com a força inferior que o homem possui atualmente. Essas árvores eram de grande durabilidade, e não experimentariam a decadência por muitos anos. 3 SG, págs. 60-61 (1 SP, págs. 65-67).

A Estatura Gigantesca dos Antediluvianos — Na primeira ressurreição, todos saem com imortal frescor, mas na segunda, os indícios da maldição são visíveis em todos. Sairão da mesma forma como foram para a sepultura. Aqueles que viveram antes do dilúvio ressuscitarão com sua estatura gigante, mais de duas vezes mais altos do que os homens que agora vivem na Terra, e bem proporcionados. As gerações pós-diluvianas são menores em estatura. 3 SG, pág. 84.

O Declínio em Estatura após o Dilúvio — Logo após o dilúvio, o gênero humano começou a decrescer rapidamente em tamanho, e na extensão dos anos. Havia uma classe de animais muito grandes que pereceram no dilúvio. Deus sabia que a força do homem diminuiria, e esses enormes animais não poderiam ser controlados por homens frágeis. 4 SG, pág. 121.

Libertinagem entre os Antediluvianos — Este [Gen. 6:5, 11-13] é o testemunho inspirado a respeito do estado da sociedade nos dias de Noé uma descrição detalhada da geração que pereceu nas águas do dilúvio. “E viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a Terra”, e que “encheu-se a Terra de violência”. O temor a Deus tinha quase desaparecido dos corações dos filhos dos homens. A libertinagem predominava, e quase todo o tipo de pecado era praticado. A maldade humana era aberta e ousada, e o lamento dos oprimidos alcançava os Céus. A justiça estava esmagada até o pó. Os fortes não somente usurpavam os direitos dos fracos, mas forçavam-nos a cometer atos de violência e crimes.

A maldade do homem era grande, mas ainda não era tudo. “Toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era má continuamente”. Os propósitos e desejos do coração corrompiam-se dia a dia.

Desenvolvimento Lento e Constante dos Antediluvianos, Suas Mentes de Elevada Ordem — Muitos se vangloriam que nesta época iluminista os homens são superiores, em conhecimento e talento, aos antediluvianos; mas estes que assim pensam não estimam exatamente o potencial físico e mental daquela raça de longa vida. Naqueles tempos primitivos, o crescimento era lento e constante. Os homens, como nos dias de hoje, não alcançavam a maturidade tão cedo, nem suas forças se esvaíam tão rapidamente. Seu intelecto era de uma ordem elevada, forte e claro. Tivessem esses homens, com suas raras capacidades para planejar e executar, se dedicado ao serviço de Deus e teriam feito do nome de seu Criador um louvor na Terra e correspondido ao propósito pelo qual Ele lhes dera a vida. Eles, porém, deixaram de fazer isto. “Toda a carne havia corrompido o seu caminho sobre a Terra”. Havia muitos gigantes, homens de grande estatura e força, afamados por sua sabedoria, hábeis ao imaginar as mais artificiosas e maravilhosas obras; sua culpa, porém, ao dar rédeas soltas à iniquidade, estava em proporção com sua perícia e habilidade mentais.

Os Antediluvianos Faziam Templos de Árvores; Ouro e Prata Eram Abundantes — Deus outorgara a esses antediluvianos muitas e ricas dádivas; mas usaram a Sua generosidade para se glorificarem, e as tornaram em maldição, fixando suas afeições nos dons em vez de no Doador. Eles possuíam muitas árvores de grande variedade e quase sem limite; mas dessas árvores fizeram templos, onde mostravam cenas de prazer e maldade. Havia ouro, prata e pedras preciosas em abundância, mas usaram estes tão somente para satisfazer os desejos de seu orgulhoso coração.

A Condição Descrente e Hedonista da Sociedade Antediluviana — Os pecadores não podiam negar a existência de Deus, mas se alegravam em saber que não havia Deus para testemunhar seus atos e chamá-los a prestar contas. Eles se deleitavam em tirá-Lo de suas mentes. As crianças não eram ensinadas a temerem e reverenciarem seu Criador. Cresciam livres em seus desejos e destituídas de princípio ou consciência. Suas mentes estavam concentradas em encontrar meios de competir entre si nos prazeres e vícios; elas nem mesmo buscavam ou se preocupavam com um Céu além deste mundo.

Poucos com Fé — O mundo inteiro ainda não havia se corrompido. Havia umas poucas testemunhas fiéis de Deus. Matusalém, Enoque, Noé e muitos outros, trabalhavam para conservar vivo o conhecimento do verdadeiro Deus e conter a onda dos males morais. Declarou que Seu Espírito não contenderia para sempre com a raça decaída, mas que sua provação duraria cento e vinte anos. Se não cessassem de poluir com seus pecados o mundo e os seus ricos tesouros, Ele os eliminaria de Sua criação. Os fervorosos ministros da justiça deram a mensagem de advertência, mas ela não foi atendida e a pregação de Noé e de seus coobreiros cada vez menos impressionava os corações. Muitos, até mesmo os adoradores de Deus, não tinham poder moral suficiente para se colocar contra as influências corruptas daquele tempo, e eram atraídos para o pecado pelas tentações fascinantes que constantemente apresentavam-se diante deles.

Vegetação Antediluviana Destruída — Mas finalmente, a paciência de Deus se esgotou. Pela sua obstinada resistência às reprovações da consciência e às advertências dos mensageiros de Deus, aquela geração encheu a medida de sua iniquidade e se tornou madura para a destruição. Porque a humanidade estava pervertendo seus dons, Deus destruiria as coisas com que Se deleitara em abençoá-los; devastaria os animais do campo e a rica vegetação que fornecia tão abundante provisão de alimento, e transformaria a formosa Terra em um vasto cenário de desolação e ruína. E o homem culpado pereceria completamente na destruição do mundo o qual ele havia dedicado suas afeições. BEcho, julho de 1887.

Várias Reações dos Antediluvianos à Mensagem de Noé — A mensagem dada por Noé, a construção daquele estranho barco, estimulou perguntas, justamente como Deus havia planejado, e instigou a curiosidade das pessoas. Multidões vinham de todas as partes do mundo para ver a estranha e maravilhosa estrutura e ouvir a mensagem de condenação e a promessa de libertação … Quando a voz de Noé se ergueu, advertindo que Deus viria julgar o mundo por causa da maldade dos homens, grande oposição manifestou-se contra as palavras do mensageiro. Porém, a oposição não foi total, porque alguns acreditaram na mensagem de Noé e zelosamente repetiam a advertência. Mas, os homens considerados sábios foram procurados e apressados para que apresentassem argumentos através dos quais a mensagem de Noé pudesse ser contestada …

Os homens sábios do tempo de Noé se uniram contra a vontade e o propósito de Deus e desprezaram a mensagem e o mensageiro que Ele enviara … Era verdade que Noé não podia contrariar as suas filosofias ou refutar as reivindicações da assim chamada ciência, mas ele poderia proclamar a Palavra de Deus. Ele sabia que ela continha a sabedoria infinita do Criador, e, como ele a apregoava em todos os lugares, ela não perdeu nenhum pouco de sua força e confiabilidade pelo fato de os homens do mundo o trataram com escárnio e desprezo. ST, 18 de abril de 1895.

Nem Todos os Antediluvianos que Rejeitaram a Mensagem Eram Idólatras — Por causa de sua santa integridade e obediência incondicional aos comandos de Deus, ele [Noé] foi considerado singular, tornando-se, por isso, objeto de desprezo e escárnio ao responder às reivindicações de Deus sem nenhuma dúvida. Que contraste com a incredulidade prevalecente e o desrespeito universal de Sua lei!

Noé foi testado e tentado diretamente e ainda preservou sua integridade em face do mundo — tudo, tudo estava contra ele. Assim será quando o Filho de Homem for revelado. Os salvos serão poucos, como é representado por Noé e sua família. O mundo devia ter acreditado nas advertências. O Espírito de Deus esforçava-se para conduzi-los à fé e à obediência, mas seus maus corações se desviaram das orientações divinas e resistiram aos rogos de amor infinito. Continuavam seus caminhos vazios, como de costume, comendo, bebendo, plantando e construindo, até aquele dia em que Noé entrou na arca.

Os homens nos dias de Noé não eram todos idólatras, mas em sua idolatria eles professavam conhecer Deus. Nas imagens que haviam criado, seu plano era representar a Deus perante o mundo. A classe que professava conhecer Deus era daqueles que lideravam a rejeição ao apelo de Noé e por cuja influência levaram outros a rejeitá-lo.

Todos passam por tempos de provação e tribulação. Enquanto Noé estava advertindo os habitantes do mundo sobre a destruição vindoura, era a oportunidade que o povo tinha de aceitar a verdade. Mas Satanás tinha o controle da mente dos homens. Eles trocaram a luz e a verdade pela escuridão e erro. Para eles, Noé parecia um fanático. Em vez de humilhar o coração perante Deus, continuaram na desobediência e impiedade, como se Deus não lhes houvera falado por meio de Seu servo. Mas Noé permanecia semelhante a uma rocha em meio à tempestade. Rodeado pelo desdém e ridículo popular, distinguia-se por sua santa integridade e fidelidade inabaláveis. Firmou-se em meio às zombarias e aos escárnios do mundo como uma testemunha inflexível diante de Deus quando sua mansidão e retidão resplandeciam em contraste ao crime, às intrigas e à violência que o rodeavam.

Pelo Fato de Que as Estações Antediluvianas Eram Regulares, Muitos Concluíram que o Dilúvio era Impossível — Noé estava ligado a Deus, e isso tornava-o forte, na força do poder infinito. Por cento e vinte anos sua voz solene soou aos ouvidos daquela geração, com referência a acontecimentos que, tanto quanto poderia julgar a sabedoria humana, eram impossíveis. O mundo antediluviano raciocinava que durante séculos as leis da natureza tinham estado fixas. As estações, periódicas, tinham vindo em sua ordem. Até ali nunca havia caído a chuva; a Terra era regada por uma neblina ou orvalho, fazendo a vegetação florescer. Os rios e riachos jamais haviam passado os seus limites, mas com segurança tinham levado suas águas para o mar. Imutáveis decretos tinham impedido as águas de transbordarem. As pessoas não reconheceram a mão dAquele que conteve as águas dizendo: “Até aqui virás, e não mais adiante”. ( Jó 38:11).

Os homens começaram a se sentir seguros e a falar sobre as leis fixas da natureza. Raciocinavam, como muitos fazem hoje, que a natureza está acima do Deus da natureza, e que suas leis são tão firmemente estabelecidas que o próprio Deus não as pode mudar, tornando as mensagens de advertência divinas sem nenhum efeito, porque, pudesse a Sua palavra se cumprir, o curso da natureza seria alterado. Os homens, antes do dilúvio, buscaram aquietar suas consciências, que o Espírito de Deus tinha despertado, ao discutir sobre a impossibilidade de a mensagem de Noé ser verdadeira e um dilúvio inundar o mundo, o que mudaria o curso da natureza …

Eles argumentavam que não era próprio do caráter de Deus salvar Noé e sua família, apenas oito pessoas naquele mundo vasto, e permitir que todo o resto da humanidade fosse varrida da face da Terra pelas águas do dilúvio. Oh, não. Havia grandes e bons homens na Terra e se eles não acreditavam, como Noé, é porque Noé é que estava enganado. Não poderia ser o contrário. Filósofos, cientistas, homens instruídos; nenhum deles via qualquer consistência nesta mensagem de advertência. Esta doutrina fantástica era uma ilusão. Se esta fosse seguramente a verdade, os homens sábios saberiam algo sobre isto. Pereceriam todos os homens sábios da face da Terra e somente Noé seria digno de ser poupado?

Mas os dias que antecederam o dilúvio passaram silenciosamente, despercebidos como o ladrão à noite. Noé faz seu último esforço para advertir, solicitar e atrair os que rejeitaram a mensagem de Deus. Com os olhos lacrimosos, lábios e voz trêmulos, ele faz o último convite para que eles acreditem e aceitem refugiar-se na arca. Mas, eles se voltavam contra Noé com impaciência e desprezo, considerando-o um egoísta, a ponto de achar que ele e sua família eram os únicos corretos em toda a Terra. Eles não tiveram paciência com as advertências de Noé, com seu estranho trabalho de construir um imenso barco no chão seco. Noé, conforme diziam, era insano. A razão, a ciência e a filosofia asseguravam-lhes que Noé era um fanático. Nenhum dos homens sábios e honrosos da Terra acreditou no testemunho de Noé. Se estes grandes homens estavam seguros e não tinham nenhum medo, por que estavam preocupados? MS 5, 1876.

Animais Poderosos Agora Extintos, Viviam Antes do Dilúvio — Foi-me mostrado que animais muito grandes e poderosos existiam antes do dilúvio, que não existem atualmente. 3SG, pág. 92 (1 SP, pág. 87).

A Vegetação Antes da Inundação — Antes do dilúvio, havia imensas florestas. As árvores eram muitas vezes maiores que qualquer árvore que vemos hoje e eram de grande durabilidade. 3 SG, pág. 79 (1 SP, págs. 81-82).

Flora e Paisagens Antediluvianas — As montanhas, as colinas e as belíssimas planícies eram adornadas com plantas, flores e altas e majestosas árvores de toda espécie, muitas vezes maiores e mais belas do que são agora. 3SG 33 (1 SP 24).

Árvores Agora Extintas Existiram Antes do Dilúvio — As elevações estavam coroadas de árvores mais majestosas do que qualquer que hoje exista. PP, pág. 44.

A Qualidade da Madeira Antediluviana e os Gigantes Antediluvianos – As árvores sobrepujavam em tamanho, beleza e proporção perfeita, a qualquer que hoje exista; sua madeira era de belo veio e dura substância, assemelhando-se em muito à pedra, e quase tão durável como esta … Havia muitos gigantes, homens de grande estatura e força, afamados por sua sabedoria, hábeis ao imaginar as mais artificiosas e maravilhosas obras. PP, pág. 90.

Fósseis e Artefatos da Época Antediluviana — Ossos de homens e animais foram descobertos na montanhas e vales, mostrando que homens e animais muito maiores do que qualquer que hoje exista viveram na Terra. Foi-me mostrado que animais muito grandes e poderosos que agora não existem mais existiram antes do dilúvio. Também foram encontrados instrumentos de guerra e madeira petrificada. Uma vez que os ossos de seres humanos e de animais encontrados na Terra são muito maiores do que aqueles de homens e animais que vivem hoje, ou que existiram por muitas gerações passadas, alguns concluem que o mundo é mais antigo que qualquer registro bíblico e foi povoado muito tempo antes dos relatos da criação por uma raça de seres grandemente superior em tamanho aos homens que atualmente povoam a Terra. 3SG, págs. 92-93 (1SP, págs. 87-88).

Homens e Animais Antediluvianos Enterrados pelo Dilúvio — Assim, Deus ordenou que homens, animais e árvores, muitas vezes maiores do que os que vivem hoje na Terra e outras coisas, deveriam ser enterrados por ocasião do dilúvio, e lá seriam preservados para provar ao homem que os habitantes do mundo antigo pereceram em um dilúvio. Deus determinou que a descoberta destas coisas na Terra estabeleceria a fé dos homens na Pena Inspirada. 3SG, pág. 95 (1 SP, pág. 90).

Fósseis e Artefatos Enterrados pelo Dilúvio — Ossos de homens e animais, bem como instrumentos de guerra, árvores petrificadas, etc., muito maiores do que qualquer que hoje exista, ou que tenha existido durante milhares de anos, foram descobertos, e disto conclui-se que a Terra foi povoada muito tempo antes da era referida no registro da criação, e por uma raça de seres grandemente superiores em tamanho a quaisquer homens que hoje vivam. PP, pág. 112.

Explicação para Fósseis Achados na Terra — É verdade que vestígios encontrados na Terra testificam da existência de homens, animais e plantas muito maiores do que os que hoje se conhecem. Tais são considerados como prova da existência da vida vegetal e animal anterior ao tempo referido no relato mosaico. Mas, com referência a estas coisas, a historia bíblica fornece ampla explicação. Antes do dilúvio, o desenvolvimento da vida vegetal e animal era superior ao que desde então se conhece. Por ocasião do dilúvio fragmentou-se a superfície da Terra, notáveis mudanças ocorreram, e na remodelação da crosta terrestre foram preservadas muitas evidências da vida previamente existente. Ed, pág. 129.

Artes Antediluvianas Enterradas pelas Águas do Dilúvio — As igrejas no mundo não podem ler um “Assim diz o Senhor” com respeito ao Sábado do Sétimo Dia, e por quê? — porque eles foram sábios em seus próprios conceitos; porque seguira; no exemplo de homens que estavam a um passo do Éden de Deus, e que, por causa de suas capacidades mentais e morais, começaram a pôr em prática suas invenções humanas, e a adorar suas obras feitas, supondo que estavam melhorando os planos e invenções de Deus. Ao agirem assim, eles exaltaram e adoraram a si mesmos. [Gênesis 6:5-8, 11-13, 17, 18.]

As invenções de arte e habilidade humanas que pereceram no dilúvio são em muito maior número do que o mundo sabe hoje. As artes destruídas representavam mais do que as artes de hoje. Os grandes dons com os quais Deus dotou o homem estavam pervertidos. Havia ouro e prata em abundância, e os homens constantemente buscavam superar uns aos outros em artifícios. O resultado foi a violência sobre a Terra. Deus foi esquecido. Esta raça de vida longa constantemente buscava descobrir como poderiam contender com o universo do céu e obter a possessão do Éden.

Quando homens falam das melhorias que ocorrem na educação superior, estão se igualando aos habitantes da época de Noé. Eles estão caindo na tentação de Satanás ao comer da árvore do conhecimento da qual Deus disse, “Não comereis dela, para que não morrais”. Deus testou os homens, e o resultado foi a destruição do mundo por um dilúvio. Neste ponto da história do mundo, há professores e alunos que supõe que o avanço no conhecimento humano substitui o conhecimento de Deus, e seu clamor é: “Educação Superior”. Acham-se mais sábios do que o maior de todos os Professores que o mundo já conheceu. Carta 65, 1898.

Obras de Arte e de Ciências Soterradas pelo Dilúvio — No mundo antediluviano havia muitas obras científicas e de artes maravilhosas. Os descendentes de Adão possuíam habilidades jamais vistas nos dias de hoje, e haviam recebido esses dons diretamente das mãos de Deus. ST, 1º de fev. de 1889.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

As lições dos instrumentos do Templo


por Lilianne Doukhan, Ph.D.


Lilianne Doukhan é formada em piano pelo Conservatório de Estrasburgo e Ph.D. em Musicologia. Ela é atualmente professora de História da Música e Literatura, no departamento de música da Universidade Andrews, e ocupa a cadeira Oliver Beltz em Adoração e Música na Igreja no Seminário Teológico da Universidade Andrews.

Os instrumentos usados em conjunção com o serviço (culto) do Templo, bem como por ocasião do transporte da arca para Jerusalém, são sistematicamente listados como harpas, liras, trombetas e címbalos (1 Cr 15:16, 19-22, 28; 16:5, 6; 25:1-6; 2 Cr 5 e 7). A instrumentação característica do serviço do Templo é muitas vezes referida, a fim de fazer um ponto com relação ao uso de instrumentos nos cultos de nossas igrejas. Mais especificamente, esta lista de instrumentos é usada para justificar a exclusão de alguns instrumentos da adoração de hoje. As seguintes reflexões sobre o assunto se propõem a ajudar a colocar a situação na perspectiva correta e clarificar várias confusões e equívocos, bem como iluminar discussões e decisões nesse assunto.
As práticas musicais no Templo israelita tinha muitos paralelos nas culturas vizinhas. Nas civilizações Egípcias, Assírias e Sumérias, por exemplo, harpas, liras, címbalos e trombetas eram proeminentes instrumentos nos serviços dos templos. Instrumentos percussivos eram de menor importância. A ênfase estava sobre a “música vocal e cântico doce”, e as cerimônias “tinham uma certa dignidade e santidade, na medida em que estes instrumentos usados não fossem considerados propícios para suscitar sensualidade”.
Em contraste com essas culturas religiosas e com as práticas de Israel, as cerimônias Fenícias eram de caráter barulhento, sensual e excitante, com instrumentos altos, como a flauta dupla, címbalos e tambores sendo “usados para estimular os jovens a uma loucura frenética para que eles pudessem se castrar”. Destas práticas Fenícias participavam mulheres musicistas que ao mesmo tempo atuavam como prostitutas sagradas [1]. O leitor familiarizado com a história da competição de Elias com os profetas de Baal no Monte Carmelo facilmente reconhecerá o tipo de celebração descrito aqui. Parece, então, a partir desses exemplos, que o uso de instrumentos era parcialmente determinado pelo caráter particular do culto procurado.

Harpas e Liras
A harpa e a lira eram instrumentos de cordas pinçadas que produziam um som suave. A lira, segura em frente ao peito do músico, composta de três a oito cordas assimétricas tocadas com os dedos ou uma palheta. A harpa tinha um corpo ressonante e era colocada no solo; de acordo com Flávio Josefo,[2] tinha 12 cordas que eram tocadas com os dedos. Ela poderia se comparar em tamanho à harpa Céltica de hoje, que é usada em música popular. Tanto a harpa quanto a lira eram usadas para acompanhar o cântico – ela não foram feitas para performances de solistas.
Cada menção da prática musical relacionada ao serviço do Templo lista esses dois instrumentos. Eles eram fundamentais para a música que era parte das celebrações litúrgicas ou extra-litúrgicas. Não há, porém, nenhuma razão para concluir que eles fossem instrumentos “sagrados”, separados para esse propósito particular. Ao contrário, a harpa e a lira são apresentadas muitas vezes pelos profetas em associação com prostitutas, bebedeira, e rebeldia (ex., Is 5:12; 23:16; 24:8, 9; Am 6:5, etc.). O uso do mesmo instrumento em situações de adoração e imoralidade indica que a Bíblia não atribui virtudes particulares aos instrumentos, e não rotula um instrumento particular como bom ou mau.

Címbalos
Os címbalos do antigo Oriente Médio eram pequenos idiofones,[3] pares de discos de bronze em forma de prato de aproximadamente 2.5 a 4.5 polegadas de diâmetro. No Templo eram usados para assinalar eventos no processo de uma ação musical ou litúrgica, [4] como o início de uma canção ou estrofe, uma parada na performance para permitir uma ação litúrgica particular (aceitação do sacrifício, oração, etc.), ou um sinal para os sacerdotes oficiantes no altar. Címbalos são geralmente associados à palavra “selah”,[5] que marca seções nos salmos.
Eles não tinham o objetivo de soar como um címbalo orquestral moderno, grande, que acrescenta ressonância a momentos de clímax numa performance musical. Ele era de tamanho muito pequeno para funcionar como um instrumento ressonante. Címbalos eram presos nas pontas de dois dedos de uma mão, como se fossem castanholas, e eram percutidos pela ação dos dedos. A Bíblia indica que apenas os chefes dos músicos soavam os címbalos, [6] outra evidência da função sinalizadora desse instrumento. Os címbalos não soavam durante o cântico e não eram usados para produzir barulho, como acontecia nas cerimônias pagãs (Fenícias).[7]
É notável que a palavra hebraica “tsetselim”, usada para designar os címbalos nos textos mais antigos (2 Sm 6:5), era tradicionalmente associado com o culto cananita pagão. Nos textos tardios, especialmente aqueles que se referem aos eventos e cerimônias israelitas (1 Cr 13:8; Ed 3:10), esses címbalos vem designados com uma palavra diferente, “metsiltayim”, provavelmente para evitar qualquer conotação com as práticas pagãs.[8] Os escritores bíblicos obviamente queriam manter a situação litúrgica livre de qualquer ambigüidades.

Trombetas
A palavra “trombeta”, como usada em modernas versões da bíblia, refere-se a vários tipos de instrumentos de sopro: a pequena trombeta militar de boca larga, as longas trombetas de prata e o chifre de carneiro (shofar). Frequentemente as várias versões da Bíblia não diferencia esses instrumentos, e os chama indiscriminadamente de “trombeta”. Eles eram todos usados para o mesmo propósito: assinalar eventos. Nenhum deles era usado com finalidades melódicas, já que eles produziam apenas os harmônicos naturais do tom fundamental (aproximadamente 3 ou 4 sons). A trombeta de prata era associada principalmente ao período no deserto – quando vários sinais eram usados para a comunicação interna do acampamento (Nm 10:1-10) – ou ao serviço do Templo.
Há, porém, uma diferença significativa no uso e no simbolismo desses instrumentos, especialmente entre a longa trombeta de prata e o shofar. O significado simbólico do shofar era associado pelos rabis ao evento do sacrifício de Isaque, quando um carneiro preso pelos chifres num matagal, tornou-se o substituto de Isaque. (Ver Talmud Babli, Rosh Hashanah 16a.) A partir daí, o chifre de carneiro ficou ligado aos eventos sacrificais e litúrgicos. Mesmo hoje o shofar é tocado no Ano Novo judaico e no fim do Dia da Expiação. No antigo Israel ele também era tocado em festas específicas e para receber o Sábado na tarde de Sexta. Seu uso simbólico na Bíblia é comprovado por muitos eventos importantes, como o cerco aos muros de Jericó, a batalha de Gideão, etc.
Flautas e Tambores
Os textos bíblicos não mencionam nem flautas nem tambores como parte dos instrumentos do Templo. No que diz respeito às flautas, os registros bíblicos fazem diferença entre ugav, uma pequena flauta que produzia um som suave, e o halil, uma grande flauta com um bocal que produzia um som agudo e penetrante similar ao do oboé (cf. o grego mono-aulos). De acordo com textos tradicionais, esses instrumentos parecem não ter sido parte, como regra geral, dos eventos litúrgicos no Templo. Alguns textos, todavia, mencionam o ugav como “retido a partir do primeiro Templo”;[9] parece, no entanto, que ele nunca era usado aos sábados.[10] Também, a lista de instrumentos dada no Mishnah[11] menciona as flautas de “doce som” como sendo usadas no Segundo Templo, mas apenas durante os 12 dias do ano ao redor do altar – durante as cerimônias da Páscoa e do Pentecostes e na Festa dos Tabernáculos. A flauta era considerada pelos israelitas como um instrumento extralitúrgico.
A flauta conhecida como halil, cujo som agudo e penetrante era considerado excitante, era permitida durante o período do Segundo Templo em procissões e casamentos, e durante alegres festividades ao redor da área do Templo. De acordo com essas descrições, os antigos israelitas fizeram uma distinção, a respeito do uso de instrumentos, entre celebrações extralitúrgicas (festivais e outros eventos religiosos populares ou ajuntamentos) e os momentos litúrgicos separados para o serviço do Sábado no Templo.
A mesma situação aplica-se aos tambores. O tof, no antigo Isarel, era um pequeno tambor de mão similar ao pandeiro moderno (sem as platinelas). O tamborim (ou pandeiro) é mencionado várias vezes na Bíblia [12] como sendo parte de eventos extralitúrgicos, geralmente fora das portas, como no cântico após a travessia do Mar Vermelho (Ex 15:20), a recepção de Davi após a morte de Golias (1 Sm 18:6), o vitorioso retorno de Jefté (Jz 11:34), e a jornada da arca para Jerusalém (2 Sm 6:5; 1 Cr 15:28, 29)[13]. O tamborim também era parte de certas celebrações (por ex., a libação de água) durante a Festa dos Tabernáculos, quando grandes festividades eram organizadas dentro da área do pátio das mulheres no Templo, e os homens poderiam dançar[14] e usar tochas acesas.[15] Devido ao caráter rítmico do tamborim, seu uso é tipicamente associado à dança. Apesar do tamborim não ter tido lugar nos arranjos litúrgicos, sua presença era, no entanto, muito forte em contextos religiosos extralitúrgicos.[16]
Com poucas exceções, o uso do tamborim era geralmente associado às mulheres, que usavam o instrumento para acompanhar o canto e a dança.[17] A prática cultural do Antigo Oriente Médio de associar tambores com mulheres pode explicar a ausência de tambores no serviço do Templo. De fato, apenas homens poderiam servir no Templo, e a música era exclusivamente feita por homens Levitas. Apesar das mulheres desempenharem um papel importante nos eventos extra litúrgicos, elas não podiam ir além do pátio da mulheres e entrar no pátio dos israelitas, menos ainda para oficiar os sacrifícios na área sacerdotal.[18] Então é possível que o caráter especificamente feminino do tamborim tenha levado à sua exclusão do serviço do Templo.
O uso do tamborim no local do Templo em diferentes eventos religiosos (como a Festa dos Tabernáculos no patio das mulheres) indica que o problema não está no instrumento em si, no sentido de que não é apropriado para a adoração. Se fosse assim, o tamborim seria banido das celebrações extralitúrgicas. O problema parece ser mais de natureza cultural, a saber, convenções particulares num dado tempo e espaço.
Se hoje alguém argumentar que os tambores devem ser excluídos da igreja com base nas práticas bíblicas do Templo, deveria também excluir as mulheres de nossos serviços de culto. No mesmo sentido, alguém poderia usar o raciocínio de que, se as flautas não foram aceitas nos arranjos litúrgicos no período do Templo, não deve haver lugar para o órgão em nossas igrejas hoje, pois órgãos são uma série de “flautas” (incidentalmente, a palavra hebraica moderna para órgão é a mesma usada para a doce flauta, “ugav”). E para ser consistente e racional, essa pessoa deveria também aceitar apenas o uso de harpas e liras na igreja. Isso seria problemático pois harpas são extremamente caras e liras nem sequer existem hoje.

Observações conclusivas
Ao olharmos o uso de instrumentos no culto do Templo, se torna claro que houve muitos paralelos entre as práticas israelitas e as das culturas do Oriente Próximo que os circundavam. Esse paralelos apontam para padrões geralmente aceitos de instrumentação litúrgica de uma dada área geográfica e/ou período de tempo. Enquanto nós notamos o uso de instrumentos e práticas musicais similares entre a adoração pagã e a israelita, alguns instrumentos/práticas estavam conspicuamente ausentes da adoração no Templo, provavelmente para evitar associações com a adoração pagã ou com sua forma.[19] O processo oposto também pode ser observado: instrumentos que em algum tempo não foram aceitos encontraram seu lugar no Templo em tempos posteriores (mas em circunstâncias levemente diferentes), como foi o caso das flautas.
Com uma preocupação semelhante, foi tomado cuidado para mudar o significado ou simbolismo de uma certa prática ou instrumento musical, no caso do risco de má compreensão ou ambiguidade, como aconteceu com os címbalos.Mesmo sendo parte da inaceitável adoração Fenícia, os címbalos encontraram um lugar essencial na adoração do Templo Israelita por ter recebido um novo nome e significado. Em vez de serem usados como causadores de ruído, eles preencheram, com um novo nome, a função de assinalar momentos na performance musical. Essa reinterpretação de significado de certos elementos das práticas culturais circunvizinhas está mergulhada na preocupação de fazer culto e música apropriados sem qualquer ambiguidade.
Essas observações sublinham a importância de uma abordagem objetiva e equilibrada da adequação ou inadequação de certos instrumentos para o louvor. Em vez de condenar o uso de um instrumento por sua associação com rituais pagãos, etc, as Escrituras indicam que tais instrumentos podem, ao contrário, ter um lugar importante na adoração a Deus. O seu significado e associações podem ser alterados e transformados. Tal procedimento é, de fato, um princípio básico do começo ao fim da Bíblia.[20]
A respeito de instrumentos na adoração, as decisões devem ser tomadas dentro do contxto da performance. Nós vimos como a flauta, embora tivesse a reputação de instrumento sensual e estivesse associada a práticas de adoração inaceitáveis, encontrou seu espaço nas celebrações e festividades israelitas extralitúrgicas porque era capaz de criar uma alegre e festiva atmosfera.
O mesmo foi verdade para o tambor. Era perfeitamente apropriado para diversas cerimônias religiosas extralitúrgicas, mas não encontrou lugar na adoração do Templo provavelmente porque mulheres não eram parte do arranjo litúrgico nas cerimônias do Templo, e porque ele era um instrumento intimamente associado com dança, que não era parte das práticas de adoração do Templo.
Finalmente, tudo se resume ao contexto cujo instrumento é usado e ao modo como tal instrumento é tocado. A Bíblia mostra claramente que os instrumentos em si não carregam valores como “mau” ou “sagrado”. A compreensão cultural de um instrumento (associações), os trejeitos da performance, e a disposição espiritual do músico são os critérios que determinam a adequação de um instrumento para a adoração. Associações podem ser mudadas, e assim um novo significado pode ser dado ao instrumento. De acordo com esses princípios, etnomusicólogos que estavam lutando com a questão da música indígena em um arranjo de adoração cristã não-ocidental levantaram a questão:
“Se uma cultura compreende uma determinada associação de um instrumento com maus espíritos, o instrumento não poderá ser redimido com a compreensão de que pode agora ser associado ao Espírito de Deus?”[21]
A observação das práticas do Templo em termos de instrumentação indica que houve uma preocupação real em sincronizar, na música, os valores de culto expressos pelas outras ações litúrgicas. A adoração no Templo, focada primariamente nos sacrifícios, não era de caráter animado (excited), mas favorecia a dignidade e a reverência. Por isso evitou qualquer coisa que pudesse promover reações sensuais ou excitantes. Mas a celebração alegre e animada não foi rejeitada pela religião bíblica. Os numerosos festivais religiosos, espalhados pelo ano inteiro, proporcionavam muitas oportunidades para a expressão alegre, estrondosa e exuberante, nas quais os instrumentos outrora ausentes do Templo encontravam lugar. O uso apropriado da música ocorre quando a música é válida para os valores da ocasião e para um culto autêntico de Deus, enquanto, ao mesmo tempo, mantém um espírito de alegria e reverência.
Música para Deus é música que é feita do melhor, de acordo com as habilidade do músico. É a música que se esforça para refletir o perfeito caráter de Deus – música digna de ser oferecida para o nosso Senhor e Criador. Na presença do sublime, do santo, não há lugar para mediocridade ou para um apressado ajuntamento de última hora. Apenas o melhor é aceitável.
Enquanto a música é nossa oferta para Deus e nos esforçamos para fazê-la tão digna quanto possível, não devemos nos esquecer de que nossa música acontece num cenário que inclui toda a congregação. Além de ser música para o Senhor, ela também se torna música entre as pessoas.

Fonte: Lilianne Doukhan, In Tune With God (Washington, D.C.: Review and Herald, 2010), pp. 109-118
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[1] Cf. Horace, citado em A. Z. Idelsohn, Jewish Music in Its Historical Development (New York: Schocken Books, 1975), p. 6.
[2]Josefo, Antiquities of the Jews, 7:12.3, em Josefo, Complete Works, trad. William Whiston (Grand Rapids: Kregel Publications, 1960), p. 165.
[3] Um idiofone é um instrumento feito de material ressonante, é feito para ressoar por golpes, balanço ou raspagem (sinos, maracas, woodblocks, etc).
[4] O uso de címbalos para assinalar pausas e interrupções é atestado em todo o antigo Oriente Médio, cf. Joachim Braun, p. 20.
[5] John Arthur Smith entende esse termo como uma “assnatura indicando uma pausa no cântico para os adoradores se prostrarem” (“Musical Aspects of Old Testament Canticles in Their Biblical Setting.” Early Music History 17 [1998]:255).
[6] Tais como Asafe, Hemã e Jedutum (em 1 Cr 6:44, Jedutum é chamado de Ethan; eles são a mesma pessoa (cf. The Interpreter’s Dictionary of the Bible, s.v. “Jeduthun”), ver 1 Cr 15:19; 16:5; 25:6; 2 Cr 5:12; Ed 3:10). Em tempos posteriores, seus descendentes continuariam com essa incumbência (ver, por ex., 1 Cr 25:3).
[7] Címbalos foram tipicamente usados como instrumentos para assinalar por todo antigo Oriente Médio. Nos cultos pagãos (Fenícios) eles também eram usados para causar ruído. Eles eram feitos de material muito caro e por um complicado processo de produção, o que excluíam o seu uso como instrumentos de massa pelas pessoas comuns (ver Braun, p. 109).
[8] Ver Braun, p. 107.
[9] The Babylonian Talmud, vol. 5: Arakhin 10b, p. 56, 58; The Talmud of the Land of Israel, trad. Jacob Neusner (Chicago: University of Chicago Press, 1988), vol 17: Sukkah, 5:6, p. 130. Cf. Idelsohn, Jewish Music, p. 11-15.
[10] The Mishnah, Sukkah 5:1, p. 288; The Babylonian Talmud, vol 22: Sukkah 50b, p. 236.
[11] Jacob Neusner, The Mishna: A New Tanslation, Arakhin 2:3, 4, pp. 811, 812.
[12] Em português a palavra “tamborim” não traduz exatamente o que seria um tof. O que conhecemos como “tamborim” é um instrumento normalmente tocado com baquetas, e não com as mãos. Assim, o tof seria fisicamente semelhante ao tamborim brasileiro, mas tocado com as mãos, como um pandeiro.
[13] O texto em 2 Samuel menciona explicitamente o tamborim. 1 Crônicas 15 reconhece apenas a dança de Davi; o tamborim não é listado especificamente com os outros instrumentos. Isso não deve nos levar a pensar, no entanto, que o tamborim estivesse ausente da procissão acompanhando a jornada final da arca até Jerusalém, pois a dança, nas culturas antigas, estava inevitavelmente conectada ao toque de tambores.
[14] Cf. The Talmud of the Land of Israel, vol. 17: Sukkah 5:4, pp. 123, 124; cf. também The Mishna, Sukkah 5:4, p. 289. No antigo Israel, a dança parece ter sido parte de certas cerimônias religiosas (veja Davi dançando diante da arca; cf. também Sl 149:3 e 150:4). Embora fosse usada durante o período do Segundo Templo em certas celebrações não-devocionais (como a Festa dos Tabernáculos), a dança nunca foi parte do serviço do Templo. A única forma de dança presente no Templo eram as procissões ao redor do altar, acompanhadas pelo cântico dos Levitas (cf. Idelsohn, Jewish Music, pp. 15, 16).
[15] The Mishna, vol. 17: Sukkah 5:4, pp. 123, 124. Cf. E. G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 448.
[16] A menção de tambores nos Salmos 149 e 150 pode dar a impressão de seu uso em contexto litúrgico. Aqui é feita a menção de louvar a Deus “na assembléia do santos” (149:1) ou “em seu santuário” (150:1). Essas passagens são frequentemente usadas para justificar o uso de tambores em nossos cultos de adoração. No entanto, é importante lembrar que os Salmos 148-150 são chamados de salmos escatológicos, ou seja, eles apontam para uma situação no fim dos tempos. O salmo 148, de fato, revela o modo como esses salmos devem ser entendidos: como uma totalidade de louvor. O salmo 148 torna clara a intenção escatológica em sua referência à dimensão universal do louvor. Todos os elementos se unem em louvor universal: os corpos celestes, criaturas humanas, e tudo em, sobre ou sob a terra. NO Salmo 149 a ênfase está na totalidade do louvor e na salvação final (ver a referência a Is 42:10 nas palavras “cantai ao Senhor um cântico novo”). O Salmo 150 apresenta uma culminação de louvor (no céu e na terra) com a participação de todos os instrumentos disponíveis, inclusive a flauta e os tambores.
[17] O toque de tambores por músicos homens parece ter sido exceção. O texto de 1 Sm 10:5 relata como Saul encontrou uma banda de profetas “descendo do alto lugar com alaúdes, tamborins, flautas e harpas.” Esses profetas eram parte de um movimento conhecido hoje como profecia estática, um fenômeno raro e e de curta duração em Israel que floresceu no tempo de Samuel, então desapareceu durante os tempos de Davi e Salomão (a era do Grande Templo). Teve um fim definitivo durante o nono século, quando assumiu as características do culto de Baal (cf. André Neher, L’essence du prophétisme [Paris: Calmann-Lévy, 1972], pp. 188-190). Uma associação de gênero de um instrumento particular pode ser observada nos címbalos, exclusivamente usados por músicos homens.
[18] As cantoras mencionadas em Ed 2:65 aparentemente pertenciam ao grupo dos cantores da corte, em vez do grupo de cantores Levitas (cf. Idelsohn, Jewish Music, p. 16).
[19] Por ex., o uso de “instrumentos percussivos, agitados e de sinal, bem como a dança e a participação de mulheres” como era costumeiro no culto Fenício (ver Idelsohn, Jewish Music, p. 18).
[20] ver, por exemplo, a prática pagã da circuncisão, que foi reapropriada por Deus como o sinal por excelência de Sua aliança com Israel (cf. Gordon J. Wenham, Genesis 16-50, Word Biblical Commentary, vol. 2, pp. 23, 24 [Dallas, Tx.: Word Books, 1994). Por receber um novo significado, um velho símbolo pagão se tornou um dos mais fundamentais símbolos bíblicos.
[21] Roberta King, citado em “Musicianaries,” Christianity Today, October 7, 1996, p.52.